ENSAIO: Renault Fluence Exclusive 1.5 dCi 105cv (Eco2)

É a velha questão em torno da ideia "baralhar para dar (criar) de novo". Nisso a marca francesa não pára de surpreender. Bem vistas as coisas, não é a única a servir-se da artimanha: construir uma "novidade" a partir do que já há, embora com características que o fazem imiscuir-se entre outros modelos. Por tudo isto, lá vai o tempo em que os segmentos eram, por assim dizer, estanques. Havia os citadinos ou utilitários, os da classe média e por aí fora. Cada um recebia a sua designação, declinando a partir daí em versões de 2, 4, mais raramente 5 portas, carrinhas (sim, ainda se chamavam "carrinhas"), descapotáveis e num ou noutro caso uma "pick-up" destinada a fins profissionais. Com esta nota introdutória — que se calhar deveria ter começado com um "no meu tempo..." —, quis explicar que o Fluence poderia ser muito simplesmente a versão "sedan" ou o "4 portas" da gama Mégane. Podia. Mas não é!

Não é porque, segundo o construtor, embora partilhe mecânica e grande parte dos interiores, apresenta alguns aspectos exteriores que o distinguem além do nome; à frente e, claro está, atrás com o prolongamento da zona da mala. Tão só.
Mas vamos por partes. É um facto que a secção dianteira apresenta maior ligeireza das linhas. Mas isso tanto pode destinar-se a gerar maior fluidez aerodinâmica, relacionado com o facto do construtor vir em breve comercializar uma versão inteiramente eléctrica do modelo (Renault Fluence Z.E. - Zero Emissões), como dar-lhe uma silhueta mais clássica e mais sóbria, geralmente mais do agrado de alguns clientes de modelos da classe superior ao Fluence.
Não só isso resulta como explica uma nova designação. Afinal, "marketing obligé"!

Ideia luminosa

"Fluence", foi um "concept-car" que um dia deu lugar ao Renault Laguna Coupe. Agora é uma versão própria, com bom espaço interior e uma mala que supera os 500 litros de capacidade. Aqui alberga um pneu de emergência e lastima-se o uso de dobradiças em arco, capazes que porem em causa a integridade da carga quando a tampa da mala se fecha.
O habitáculo tem bons acessos. É suficientemente luminoso e só não proporciona melhor visibilidade porque a traseira é elevada e possui encostos de cabeça proeminentes.
As semelhanças com a restante gama Mégane são mais do que evidentes, com a ressalva dos mostradores serem clássicos de agulha e não digitais. Os revestimentos superiores são suaves e a aparência qualitativa é boa, embora algumas partes menos evidentes apresentem plásticos de qualidade mediana. Pequenos espaços em número suficiente e habitabilidade do banco traseiro algo condicionada em altura devido à forma do tejadilho.

Caixa de seis

Falar sobre este motor e evitar ser repetitivo começa a ser difícil, tal é a diversidade de modelos que o utiliza.
Este 1.5 dCi com caixa de seis velocidades cumpre os objectivos em estrada e em cidade; é económico o que lhe confere baixas emissões e, apesar de ruidoso, uma boa insonorização "abafa-lhe" o trabalhar. É ainda suficientemente despachado, mesmo com a lotação máxima, embora quando enfrenta lombas ou lhe é pedida maior capacidade de tracção, sobrevenha a limitação própria de um motor que vive muito do desempenho do sistema de alimentação e do funcionamento do turbo.
Não me agradou a suspensão demasiado macia. Isso torna o Fluence mais sensível a qualquer variação do piso, sem grandes benefícios sobre o conforto dos ocupantes. A Renault quis construir um carro suave, que até se porta bem em estrada e é estável em velocidade, mas a afinação e pressão da suspensão obriga a abrir a trajectória em curva, enquanto que a traseira balança desnecessariamente em percursos mais irregulares.

PREÇO, desde 26500 euros
MOTOR, 1461 cc, 105 cv às 4000 r.p.m., 240 Nm às 2000 rpm, 8 válvulas, Injecção directa common rail com turbo de geometria variável
CONSUMOS, 5,3/4,1/4,5 l (urbano/extra-urbano/misto)
CO2, 119 (g/km)

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